Sunday, June 24, 2018

NA PRIMEIRA PESSOA -- PARTE 2 -- O ALUNO

 





O ALUNO
As entrevistas com a professora de Putin revelam um  estudante com uma mente brilhante. Putin chegava sempre atrasado à escola e não se filiou nos Pioneiros. Mas depois, aos 10 anos, descobriu as artes marciais e, depois de ter lido novelas e ter visto filmes sobre espiões, desenvolveu uma fixação obstinada de ingressar no KGB. Aos 16, dirigiu-se ao quartel general do KGB onde lhe foi dito que tinha de frequentar uma Faculdade de Direito e manter a boca fechada, se realmente quisesse ser espião. Apesar das súplicas e das ameaças dos seus pais e do professor de judo, decidiu fazê-lo.
Recorda-se da Primária?
Nasci em Outubro, por isso, não entrei na escola senão quando tinha quase oito anos. Ainda temos a fotografia no arquivo da família: Estou com um uniforme cinzento, à moda antiga. Parece um uniforme militar e, por qualquer razão, estou de pé com um vaso de flores na mão. Não um ramo, mas um vaso.
Queria ir para a escola?
Não, não propriamente. Gostava de brincar ao ar livre, no nosso pátio. Havia dois pátios juntos, como um poço de ar e a minha vida decorria aí. Às vezes a minha Mãe surgia à janela e gritava “Estás no pátio?” Eu estava sempre lá. Desde que não fugisse, podia brincar no pátio sem pedir permissão.
E nunca desobedeceu, nem uma vez?
Quando tinha cinco ou seis anos, fui até à esquina da rua principal sem consentimento. Foi no Primeiro de Maio. Olhei à volta. As pessoas surgiam fazendo muito barulho. A rua estava muito animada. Estava mesmo um pouco assustado.
Então, num inverno, quando era um pouco mais velho, os meus amigos e eu, decidimos sair da cidade sem dizer nada aos nossos pais. Queríamos fazer uma viagem.
Saímos do comboio, algures e estávamos completamente perdidos. Fazia frio. Tínhamos trazido alguns fósforos e tentámos fazer uma fogueira. Não tínhamos nada para comer. Ficámos completamente gelados. Voltámos para o comboio e fomos para casa. Apanhámos de cinto por essa façanha. E nunca mais quisemos fazer outra viagem.
Então nunca mais procurou aventuras?
Durante algum tempo. Especialmente quando fui para a escola. Frequentei a Escola no. 193, que estava na mesma rua da minha casa, a cerca de 7 minutos a pé, da primeira até à oitava classe. Chegava sempre atraso, durante a primeira classe, pois mesmo no inverno, não vestia muitos agasalhos. Demorava muito tempo a vestir-me, a correr para a escola e depois tirava o casaco. Então, para poupar tempo, nunca vestia o casaco e disparava para a escola como uma bala e sentava-me na minha carteira.
Gostava da escola?
Durante algum tempo. Enquanto diligenciei ser, como é que hei-de referir? O líder tácito.  A escola era muito perto da minha casa. O nosso pátio era um refúgio seguro, e isso ajudou.
As pessoas prestavam-lhe atenção?
Não tentei comandar os outros. Era mais importante preservar a minha independência. Se tivesse de comparar com a minha vida de adulto, diria que o papel que desempenhei em criança era como a função da área judicial e não do ramo executivo. Enquanto funcionei dessa maneira, gostei da escola. Mas não durou para sempre. Em breve, tornou-se evidente que as minhas capacidades do pátio não eram suficientes e comecei a praticar desporto. E para manter o meu estatuto social tinha de começar a ter bom aproveitamento na escola. Para ser sincero, até à sexta classe, tinha sido um aluno muito imprevisível.
Vera Dmitrievna Gurevich:
Conheci Volodya quandi ainda frequentava a quarta classe. A professora, Tamara Pavlovna Chizhova disse-me uma vez: “Vera Dmitrievna, fica com a minha classe. Não são maus alunos.”Fui visitar a classe e organizei um club de língua alemã. Foi interessante ver quem apareceu. Vieram cerca de 10-12 alunos. Tamara Pavlovna perguntou quem estava lá. Disse-lhe: “Natasha Soldatova, Volodya Putin . . .Ela ficou surpeendida. “O Volodya também? Nem parece dele.” Mas ele demonstrou muito interesse pelas lições.
Ela disse: “Bem, espera e verás.” Perguntei: “O que queres dizer com isso?” Ela respondeu que ele era demasiado manhoso e desorganizado. Nem sequer estava nos Pioneiros.
Habitualmente, era-se aceite nos Pioneiros na terceira classe. Mas o Volodya não porque era muito astuto. Algumas classes estudavam Inglês e outras Alemão. O Inglês estava mais na moda do que o Alemão e havia mais aulas de Inglês. Volodya acabou na minha classe. Na quinta classe, ele ainda não se tinha evidenciado, mas senti que ele tinha potencial, energia e personalidade. Vi o seu grande interesse pela língua. Aprendeu-a facilmente. Tinha muito boa memória e uma mente rápida.
Pensei: Este miúdo vai ser alguém. Decedi dedicar-lhe mais atenção e desencorajei-o a conviver com os rapazes da rua. Tinha amigos na vizinhança, dois irmãos de apelido Kovshov e costumava andar com eles, a saltar dos telhados das garagens e dos barracos. O pai de Volodya não gostava muito disso. Mas não conseguia afastar Volodya dos irmãos Kovshov.
O pai dele era muito austero e imponente. Muita vezes tinha um ar zangado. A primeira vez que o vi, fiquei assustada. Pensei: “Que homem tão severo e rígido. E depois verifiquei que era uma pessoa de bom coração. Mas não era de beijos e abraços. Não havia nada de cenas amorosas em casa. 
Uma vez fui visitá-los e disse ao pai de Volodya, “o Seu filho não está a trabalhar toda a sua potencialidade.” Ele disse: “Bem, e que posso fazer? Matá-lo ou o quê? Respondi: “Tem de ter uma conversa com ele. Vamos tentar melhorá-lo, o senhor em casa e eu na escola. Ele pode ter melhores notas. Ele percebe tudo muito rapidamente.” Em todo o caso, concordámos fazê-lo progredir; mas de facto, não tivémos nenhuma influência especial.
O próprio Volodya mudou, repentinamente, na sexta classe. Era óbvio; tinha estabelecido um objectivo. Acima de tudo, tinha compreendido que tinha de conseguir algo, na vida. Começou a ter melhores notas e conseguia-o facilmente. Finalmente, foi aceite nos Pioneiros. Houve uma cerimónia e fomos a casa de Lenin, onde foi admitido nos Pioneiros. Pouco depois tornou-se o líder da sua unidade.
Por que motivo não foi admitido nos Pioneiras até à sexta classe? Foi tudo muito mau até então?
Claro. Eu era um rufia, não era um Pioneiro.  
Está a ser tímido?
Está a insultar-me. De facto, era um mau rapaz.
Vera Dmitrievna Gurevich:
A maioria das crianças gostava de ir aos bailes. Tivemos espectáculos nocturnos na escola. Designávamo-los como o Clube de Cristal. E encenávamos peças de teatro. Mas Volodya não participou em nada disso.
O pai queria realmente que ele tocasse acordeão e obrigou-o a ter aulas nas primeiras classes. Volodya resistiu. Embora  gostasse de guitarra. Cantou principalmente Vysotsky, * todas as músicas do álbum ‘Vertical’, sobre as estrelas e sobre Seryozha de Malaya Bronnaya Street.
* Vladimir Vysotsky era um cantor de música popular russa.
Mas não gostava muito de socializar. Preferia desportos. Começou a praticar artes marciais para aprender a defender-se. Quatro vezes por semana, tinha aulas algures, perto da Estação Finland, e ia muito bem. Gostava de Sambo  Depois, começou a tomar parte em competições que determinavam que ele viajasse para outras cidades. 
Comecei a praticar desporto quando tinha 10 ou 11 anos. Logo que se tornou claro que a minha natureza combativa não me manteria como rei do pátio ou da escola, decidi entrar no boxe. Mas não durou muito tempo. Em breve, tinha o nariz quebrado. A dor foi terrível. Não conseguia nem tocar na ponta do nariz. Mas, embora todos me dissessem que eu precisava de uma operação, não fui ao médico.
Por quê?
Sabia que iria curar-se por si mesmo. E assim aconteceu. Mas, depois disto perdi o ‘bichinho’ do boxe. Então decidi praticar sambo, uma combinação soviética de judo e luta livre. Nessa época as artes marciais eram muito populares. Fui para uma aula, perto da minha casa e comecei a praticar. Era um ginásio muito simples que pertencia ao clube atlético Trud. Tinha um professor muito bom, Anatoly Semyonovich Rakhlin, que dedicou toda a sua vida a essa arte marcial, e ainda treina raparigas e rapazes até hoje.
Anatoly Semyonovich desempenhou um papel decisivo na minha vida. Se não me tivesse envolvido no desporto, não faço ideia como é que a minha vida teria sido. Foi o desporto que me tirou das ruas. Sinceramente, o pátio não era um bom ambiente para uma criança.
Primeiro aprendi sambo. Depois judo. O professor decidiu que deveríamos todos praticar judo e assim fizemos.
O Judo não é apenas um desporto, como sabem.É uma filosofia. É respeitar os mais velhos e os seus opositores. Não é para fracos. Tudo no judo tem um aspecto positivo. Vai-se para o tapete, fazem mutuamente uma vénia, seguem o ritual. Como sabe, poderia ser feito de maneira diferente. Em vez de se curvar perante o seu oponente, poderia agredí-lo na testa.
Fumou alguma vez?
Não. Tentei várias vezes, mas nunca fumei regularmente. E quando comecei a fazer desporto, coloquei isso completamente de lado. Comecei a fazer exercício físico de vez em quando e depois todos os dias. Em breve, não tinha tempo para mais nada. Tinha outras prioridades; tinha de me pôr à prova no desporto, alcançar algo. Estipulei objectivos. O desporto realmente teve uma grande influência em mim.
E não praticou karaté?
Naqueles dias era um desporto popular, embora pensasse que tinha sido banido. Pensávamos que o karaté e outros desportos de não contacto eram como o ballet. Os desportos eram desportos se se tivesse de derramar suor e sangue e trabalhar duramente.
Mesmo quando o karate se tornou popular e as escolas de karaté se começaram a espalhar, considerávamo-las apenas como empresas de fazer dinheiro. Nós, pelo contrário, nunca pagámos dinheiro pelas nossas lições. Todos nós pertencíamos a famílias pobres. E como as lições de karaté custavam dinheiro desde o princípio, as crianças que aprendiam karaté pensavam que eram de primeira classe.
Uma vez fomos para o ginásio com Leonid Ionovich, o instrutor mais velho do Trud.  Os alunos de karaté estavam a treinar no tapete, embora fosse a nossa vez. Leonid foi até junto do treinador e disse que era hora da nossa aula. O treinador de karaté nem sequer olhou para ele, como se dissesse, vai-te embora. Então Leonid, sem dizer uma palavra, sacudiu-o, apertou-o levemente e o arrastou para fora do tapete. Ele tinha perdido os sentidos. Então Leonid virou-se para nós e disse: “Entrem e ocupem os vossos lugares” Essa foi a nossa atitude em relação ao karaté.
Os seus pais incentivaram-no a ter essas lições?
Não, foi precisamente o contrário. Ao princípio, estavam muito desconfiados. Pensavam que eu estava a adquirir alguma espécie de capacidade perigosa para usar nas ruas. Mais tarde, conheceram o professor e começaram a visitar a sua casa e a atitude deles mudou. E quando alcancei os meus primeiros bons resultados, os meus pais compreenderam que o judo era uma arte importante e útil.
Começou a ganhar?
Sim, dentro de um ano ou dois.
Vera Dmitrievna Gurevich:
Ensinei Volodya desde a quinta até à oitava classe, inclusive. Então tivemos de decidir para que escola o devíamos mandar. E a maior parte da classe foi para a Escola No. 197. Petra Lavrova tinha começado a ir a casa de Putin a partir da sexta classe. Volodya não tinha um interesse especial por meninas; mas claro que elas estavam interessadas nele. De repente, ele anunciou a todos: “Vou para a Universidade.” Perguntei-lhe: “Como?” Ele respondeu: “Resolverei esse problema por mim mesmo”. 
Mesmo antes de ter terminado o Secundário, queria trabalhar nos serviços secretos. Era um dos meus sonhos, embora parecesse tão provável como uma viagem a Marte. E claro, por vezes, as minhas ambições mudavam. Também queria ser marinheiro. E numa certa altura, também queria ser piloto. A Academia da Aviação Civil é em Leninegrado, e eu estava empenhado em entrar. Li a litereatura e cheguei mesmo a subscrever um jornal sobre aviação. Mas depois, os livros e os filmes de espiões como “A espada e o Escudo” tomaram conta da minha imaginação. O que me surpreendia mais, acima de tudo, é como o esforço de um homem podia alcançar o que exércitos inteiros não conseguiam. Um espia podia decidir o destino de milhares de pessoas. Pelo menos, essa era a maneira como eu compreendia.
A Academia de Aviação Civil perdeu, rapidamente, a sua emoção. Tinha feito a minha escolha. Queria ser um espião. Os meus pais não conseguiam compreender. O meu professor de judo foi vê-los e disse-lhes que, como eu era um atleta, podia entrar no instituto sem praticamente ter de fazer exames. Por isso, eles tentaram dizer-me para ir para um instituto. O meu professor tomou o partido deles. Não podia compreender porque é que eu resistia.”Ele tem uma vantagem de 100% de entrar na Academia da Aviação Civil,” disse aos meus pais. E se não entrar na Universidade, então poderá ir para o Exército.”
Foi uma situação muito difícil. O meu Pai tinha uma personalidade dominante. Mas eu finquei-me no meu desejo e disse que tinha decidido.
Então, outro dos meus treinadores do Trud Club, Leonid Ionovich, veio visitar-me. Era um tipo inteligente. “Bem”, disse-me, “Para onde vais?” Claro que já sabia. Estava só a ser astuto. Disse-lhe: “Para a Universidade.” “Oh, óptimo, vai ser bom para ti”, disse, “para que departamento?” “Para a Faculdade de Direito”, respondi. Então, rugiu: “O quê? Para apanhar pessoas? Que estás a fazer? Vais ser um polícia, compreendes?” Sentí-me insultado. “Não vou ser um polícia!” Retorqui aos berros.
Pressionaram-me durante um ano. Só aumentaram a minha vontade de ir para a Faculdade de Direito. Mas porque razão a Faculdade de Direito?
Para saber como ser um espião, perto do nono ano tinha ido à Secretaria da Directoria do KGB. Veio um funcionário e escutou-me. “Queria trabalhar para vós”, disse-lhe “Excelente, mas há várias questões” respondeu-me. “A primeira, não empregamos pessoas que venham ter connosco por sua iniciativa. A segunda, só pode abordar-nos depois da tropa ou depois de qualquer tipo de educação superior civil.”
Eu estava intrigado. “Que tipo de educação superior?” perguntei. “Qualquer uma!” respondeu. Provavelmente queria despachar-me. “Mas qual é a preferida?”perguntei. “A Faculdade de Direito”. E foi assim. A partir desse momento, comecei a preparar-me para a Faculdade de Direito da Universidade de Leningrado. E ninguém me pôde impedir.
Mas os meus pais e os meus treinadores tentaram. Ameaçaram-me com o serviço militar durante bastante tempo. O que não compreenderam é o que o exército me servia muito bem. Claro que teria atrasado um pouco o meu progresso, mas isso não me desviaria da minha decisão.
No entanto, os treinadores tinham mais truques na manga. Quando fui à Universidade matricular-me nas classes preparatórias, soube que tinham feito listas de atletas a quem deveria ser dada a prioridade na admissão à Universidade. Soube, por um facto, que não estava na lista. Mas quando estava a matricular-me, o meu professor de ginástica  tentou forçar-me a aderir ao Burevestnik Club. Perguntei-lhe: “Como posso mudar para lá?”E ele respondeu, “Ajudámos-te a entrar na Universidade, então, por favor tem a bondade...”Eu sabia que estavam a aprontar alguma coisa.
Fui ter com o Reitor. Entrei e disse-lhe sinceramente, “Sou forçado a transferir-me para Burevestnik. Não penso que deva fazê-lo.” E o reitor, o Prof. Alekseyev, um homem bondoso, disse: “Por que é que o estão a forçar?” Respondi, “ Porque supostamente ajudaram-me, como atleta, a entrar na Universidade e agora tenho de retribuir-lhes, indo para Burevestnik.”

Ele retorquiu: “É verdade? Não pode ser! Todos entram nesta Universidade em igualdade de circunstâncias, avaliados pelo seu conhecimento, não através de listas de atletas. Espere um momento, vou procurar”. Foi à secretária dele, pegou numa lista e perguntou-me qual era o meu último nome. “Você não está na lista,” disse, “Portanto, pode dizer-lhes com segurança, para irem embora”. E foi o que eu fiz.



A seguir:


PARTE 3

O ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO

Sunday, June 17, 2018

NA PRIMEIRA PESSOA -- PARTE 1 -- O FILHO

 





PARTE 1 
O FILHO
Putin fala sobre os seus pais, abordando as missões de sabotagem do seu pai, na Segunda Guerra Mundial, o Cerco de Leningrado e a vida num apartamento comunal depois da guerra. Não é fácil - sem água quente, sem casa de banho, um wc fedorento e brigas constantes. Putin passa muito tempo perseguindo ratos com um pau, na escadaria do prédio.

Sei mais sobre a família do meu Pai do que sobre a da minha Mãe. O pai do meu Pai nasceu em São Petersburgo e trabalhou como cozinheiro. Eram uma família muito comum. Um cozinheiro, afinal, é um cozinheiro. Mas, aparentemente meu avô cozinhou bastante bem, porque depois da Primeira Guerra Mundial foi-lhe oferecido um emprego no distrito de The Hills, nos arredores de Moscovo, onde vivia Lenin e toda a família Ulyanov. Quando Lenin morreu, o meu avô foi transferido para uma das dachas de Stalin. Trabalhou lá durante muito tempo.

Não foi vítima das purgas? 

Não, por qualquer razão deixaram-no viver. Poucas pessoas que passaram muito tempo junto de Stalin ficaram a salvo, mas o meu avô foi uma delas. A propósito, sobreviveu a Stalin e, nos últimos anos de aposentadoria, foi cozinheiro do sanatório da Comissão do Partido da Cidade de Moscovo, em Ilinskoye.

Os seus pais falavam muito sobre o seu avô?

Tenho uma recordação nítida de Ilinskoye, porque costumava ir visitá-lo. O meu avô era muito reservado sobre a sua vida passada. O meus pais não também falavam muito sobre o passado. Naquela época, as pessoas geralmente não o faziam. Mas quando os parentes vinham visitar-nos, havia longas conversas ao redor da mesa e eu apanhava alguns episódios, alguns fragmentos da conversa. Mas os meus pais nunca me disseram nada sobre si mesmos. Especialmente o meu Pai. Era um homem muito reservado.

Sei que o meu Pai nasceu em São Petersburgo, em 1911. Depois da Primeira Guerra Mundial, a vida era difícil na cidade. As pessoas estavam a morrer à fome. Toda a família foi para a casa da minha avó na aldeia de Pominovo, na região de Tver. A propósito, a casa dela ainda hoje está de pé; os membros da família ainda passam lá as suas férias. Foi em Pominovo que o meu Pai conheceu a minha mãe. Tinham ambos 17 anos quando se casaram.

Porquê? Houve alguma razão?

Não, efectivamente, não houve. Você precisa de um motivo para se casar? O principal motivo foi o amor. E meu Pai iría para o exército em breve. Talvez cada um deles quisesse algum tipo de garantia. . . . Não sei.

Vera Dmitrievna Gurevich (Professora de Vladimir Putin, da 4ª até à 8ª classe, na Escola nº 193):

Os pais do *Volodya(diminutivo de Vladimir) tinham uma vida muito difícil. Pode imaginar como a sua mãe era corajosa  para dar à luz aos 41 anos? O pai de Volodya, disse-me uma vez: “Um dos nossos filhos teria a sua idade”. Presumi que deviam ter perdido outro filho durante a guerra, mas não me senti à vontade para  lhe perguntar.

Em 1932, os pais de Putin vieram para Peter [St. Petersburgo]. Moravam nos subúrbios, em Peterhof. A mãe foi trabalhar para uma fábrica e o pai foi quase imediatamente convocado para o exército, onde serviu numa frota de submarinos. Um ano depois voltou, tiveram dois filhos. Um morreu alguns meses após o nascimento.

* Os russos usam vários diminutivos para cada nome, dependendo do grau de familiaridade e afecto.Vladimir Putin é chamado frequentemente de Vovka e Volodya pelos amigos e pela família.

Obviamente, quando surgiu a Guerra, o seu pai foi imediatamente para a frente. Ele assentara praça num submarino e acabara de completar o seu período de serviço. . .

Sim, ele foi para a frente como voluntário.

E a sua mãe?

A minha Mãe recusou-se categoricamente a ir para outro sítio. Permaneceu em casa, em Peterhof. Quando se tornou extremamente difícil continuar aí, o irmão dela levou-a para Petersburg. Ele era um oficial da Marinha e servia no quartel general da armada, em Smolny.* Ele veio buscá-la e ao bebé e levou-os debaixo do fogo das armas e das bombas.

* Smolny era um colégio privado de meninas antes da Revolução, quando Lenin se apossou do mesmo e o converteu no quartel general do seu governo revolucionário. Desde então, tem sido a sede do governo local, em S. Petersburg.

E o seu avô, o cozinheiro? Não fez nada para ajudá-los?

Não. Naquela época, as pessoas de um modo geral, não pediam favores. De qualquer maneira, penso que naquelas circunstâncias teria sido impossível. O meu avô tinha muitos filhos, e todos os seus filhos estavam na frente.

Então a sua mãe e o seu irmão saíram de Peterhof, que estava cercado, para Leningrado, que também estava sitíado?

Para onde é que poderiam ir? A minha Mãe disse que tinham sido construídos alguns abrigos em Leninegrad, num esforço para salvar a vida das crianças. Foi num desses abrigos, que o meu irmão apanhou difteria e morreu.

Como é que ela sobreviveu?

O meu tio ajudou-a. Alimentou-a com as suas rações. Houve uma altura em que ele foi transferido para outro lugar durante algum tempo, e ela ficou no limiar da fome. Não é exagero. Uma vez a minha mãe desmaiou de fome. As pessoas pensaram que ela tinha morrido e colocaram-na junto aos cadáveres. Felizmente, a minha Mãe acordou a tempo e começou a gemer. Por milagre, estava viva. Passou por esta situação durante todo o cerco de Leninegrado. Não a tiraram de lá até o perigo passar.

 E onde estava o seu pai?

O meu Pai esteve sempre no campo de batalha. Tinha sido enviado para um batalhão de demolições do NKVD. Esses batalhões estavam empenhados em sabotagem, por trás das linhas alemãs. O meu Pai tomou parte nessa operação. Havia 28 pessoas nesse grupo.

Foram lançados em Kingisepp. Observaram atentamente as imediações, colocaram-se em posição na floresta, e conseguiram explodir um paiol de munições antes de ficarem sem mantimentos. Encontraram alguns residentes locais, Estonianos, que lhes trouxeram comida, mas mais tarde, entregaram-nos aos alemães.

Praticamente, não tiveram oportunidade de sobreviver. Os alemães cercaram-nos por todos os lados e só alguns, incluindo o meu Pai, conseguiram escapar. Depois começou a caça. Os que restavam da unidade, dirigiram-se para a linha da frente. Perderam alguns durante o caminho e decidiram dividir-se. O meu Pai saltou para dentro de um pântano, submerso até à cabeça e respirou através de um junco ôco até os cães terem passado. Foi como sobreviveu. Só 4 dos 28 homens da sua unidade regressaram a casa.

Depois encontrou a sua mãe? Ficcaram juntos? 

Não, não teve a oportunidade de procurá-la. Enviaram-no imediatamene para combate. Feriu-se noutro local adverso, o denominado Neva Nickel. Era uma área pequena e circular. Se estivermos voltados de costas para o Lago Ladoga, está na margem esquerda do Rio Neva. As tropas alemãs tinham-se apossado de tudo excepto desse pequeno pedaço de terra. E os nossos soldados mantiveram esse pedaço durante todo o cerco, calculando que ele ia desempenhar uma função no avanço final. Os alemães tentaram apanhá-lo. Foi lançado uma enorme quantidade de bombas em cada metro quadrado daquele pedaço de turfa, mesmo segundo os padrões dessa guerra. Foi um massacre monstruoso. Mas de certeza que o Neva Nickel desempenhou um papel importante no final.

Pensa que pagámos um preço demasiado alto por esse bocado de terra?

Penso que há sempre muitos erros feitos durante a Guerra. É inevitável. Mas quando estamos a combater, se pensas que todos à tua volta estão sempre a cometer erros, nunca ganharás. Tens de assumir atitudes pragmáticas. E tens de pensar na vitória. E nessa altura, eles estavam a pensar na vitória.

O meu Pai foi gravemente ferido no “Nickel”. Uma vez, ele e outro soldado receberam ordens de capturar um prisioneiro que devia falar durante o interrogatório. Rastejaram até uma toca de raposa e estavam à espera, quando, de repente, surgiu um alemão. O alemão ficou tão surpreendido quanto eles. O alemão recuperou primeiro, tirou uma granada do bolso e atirou-a ao meu Pai e ao outro soldado, e foi calmamente embora. Realmente a vida é uma coisa tão simples.

Como sabe tudo isso? Disse que os seus pais não falavam muito sobre si.

Esta história foi-me contada pelo meu Pai. Provavelmente, o alemão estava convencido que tinha matado os russos. Mas o meu Pai sobreviveu, embora as suas pernas tivessem sido atingidas com espilhaços. Os nossos soldados tiraram-no de lá, passado algumas horas. E ninguém se voluntariou.

Para a linha da frente?

Adivinhou. O hospital mais próximo era na cidade e para chegar lá, tiveram de arrastá-lo durante todo o caminho, através do Neva. Todos sabiam que seria um suicídio, porque todos os centimetros do caminho eram atingidos. Claro que nenhum comandante tinha dado aquela ordem. E ninguém se voluntariou. O meu Pai já tinha perdido tanto sangue que era visível que iría morrer, se o deixassem lá.

Por coincidência, um soldado que por acaso era um nosso antigo vizinho, deparou com ele. Sem dizer uma palavra, percebeu a situação, carregou o meu Pai nas suas costas e levou-o através do Neva para o outro lado. Tornaram-se um alvo ideal, mas mesmo assim, sobreviveram. Este vizinho levou o meu Pai ao hospital, disse-lhe adeus,  e tornou para a frente. Ele disse ao meu Pai que não se tornariam a ver outra vez. Evidentemente, não acreditava que iria sobreviver no “Nickel” e pensavam que o meu Pai também não tinha essa oportunidade.

Ele estava  enganado?

Graças a Deus, estava. O meu Pai conseguiu sobreviver. Passou vários meses no hospital. A minha mãe encontrou-o. Ia vê-lo todos os dias. A minha Mãe estava quase morta. O meu Pai viu como ele estava enfraquecida e começou a dar-lhe a sua própria comida, às escondidas das enfermeiras. De facto, elas perceberam rapidamente. Os médicos perceberam que ele estava a desmaiar de fome. Quando perceberam a razão, deram-lhe um grande ‘sermão’ e não permitiram que a minha mãe o visse, durante uns tempos. O facto é que ambos sobreviveram. Só que o meu Pai ficou a coxear para toda a vida.

E o vizinho?

O vizinho também sobreviveu! Depois do cerco, foi para outra cidade. Ele e o meu Pai, encontraram-se em Leninegrado, por mero acaso, vinte anos depois. Podem imaginar?

Vera Dmitrievna Gurevich:
A mãe de Volodya's era uma pessoa muito carinhosa, generosa, a imagem da bondade. Não sei se ela terminou a quinta classe. Trabalhou duramente durante toda a vida. Era zeladora, fazia as entregas de uma padaria à noite, lavava os tubos de ensaio de um laboratório. Penso que ela chegou msmo a trabalhar como guarda, num armazém, durante uma época.

O pai de Volodya trabalhava como fabricante de ferramentas numa fábrica. Era muito apreciado por ser um trabalhador apto e de boa vontade. A propósito, ele não tinha pensão de deficiência, embora uma das suas pernas estivesse, efectivamente, aleijada. Em casa, era ele que cozinhava habitualmente. Costumava fazer um aspic (geleia de carne) maravilhoso. Recordamos a geleia de Putin até hoje. Ninguém fazia geleia como ele.
 ......
Depois da Guerra, o meu Pai foi desmobilizado e começou a trabalhar  como trabalhador qualificado, na Fábrica de Automóveis e Comboios Yegorov. Há uma pequena placa em cada carruagem de metro que diz, “Esta carruagem nr tal e tal, foi fabricada na Fábrica de Carros e Comboio Yegorov.”

A fábrica concedeu ao meu Pai, um quarto, num apartamento comunal, num edifício típico de St. Petersburg, na Alameda Bascov, no centro da cidade. Tinha um respiradouro para um pátio, e os meus pais viviam no quinto andar. Não havia elevador.

Antes da Guerra, os meus pais tinham tido a metade de uma casa, em Peterhof. Nessa época, tinham muito orgulho no seu nível de vida. Por isso, viver num apartamento foi dar um passo atrás.

Vera Dmitrievna Gurevich:
Tinham um apartamento horroroso. Era comunal, sem os requisitos necessários. Não havia água quente, nem chuveiro. O wc era horrível. Estava virado para o patamar da escada. Era tão frio, medonho e a escada tinha um corrimão de metal gelado. As escadas não eram seguras, havia lacunas em todos os lugares.
…...
Aí, no patamar das escadas, aprendi uma lição curta e duradoura sobre o significado da palavra ‘encurralado’. Havia inúmeras ratazanas na entrada. Os meus amigos e eu, costumávamos persegui-las com paus. Uma vez, encontrei uma ratazana enorme e fui atrás dela até à entrada do apartamento e encurralei-a num canto. Ela não tinha para onde fugir. De repente, deu meia volta e atirou-se a mim. Fiquei surpreendido e assustado. Agora a ratazana estava a encurralar-me. Saltei através do patamar e corri escadas abaixo. Felizmente, fui um pouco mais rápido e consegui fechar a porta mesmo no nariz dela.

Vera Dmitrievna Gurevich:
Praticamente não havia cozinha. Era um canto quadrado, escuro e sem janelas. Num lado tinha um fogão a gás e uma banca no outro. Não havia espaço para poder circular. 

Ao lado dessa presumível cozinha viviam os vizinhos, uma família de três pessoas. E os outros vizinhos, um casal de meia idade, viviam na porta a seguir. O apartamento era comunal.  Os Putin estavam reduzidos a um quarto. Pelos padrões dessa época, era aceitável, porque media 20 metros quadrados.
....
Uma família judia, um casal idoso e a filha, Hava, viviam no nosso apartamento comunal. Hava era uma mulher feita, mas como os adultos costumam dizer, a sua vida não tinha corrido bem. Nunca casou e ainda vivia com os pais.

O pai era alfaiate e, embora parecesse muito idoso, trabalhava na sua máquina de costura dias a fio. Eram judeus religiosos. Não trabalhavam no Sabbath, e o ancião recitava o Talmud. Uma vez, não consegui aguentar e perguntei-lhe o que estava a recitar. Ele explicou-me o que era o Talmud e perdi imediatamente o interesse.

Como é frequente num apartmento comunal, as pessoas de vez em quando discordavam. Eu queria sempre defender os meus pais e falava em seu nome. Devo explicar que me dava muito bem com esse casal idoso e brincava muitas vezes, no lado do apartamento que lhes pertencia. Bom, um dia, quando eles estavam a altercar com os meus pais, intrometi-me. Os meus pais ficaram furiosos. A reacção deles foi um choque enorme para mim; era incompreensível. Eu estava do lado deles e eles disseram-me: “Mete-te na tua vida!” Por quê? Simplesmente não conseguia compreender. Mais tarde, compreendi que os meus pais consideravam a minha boa relação com o casal idoso e a afeição deles por mim muito mais importante que esses pequenas brigas da cozinha.

Depois deste incidente, nunca mais me envolvi em brigas de cozinha. Logo que eles começavam a discutir, ia para o nosso quarto ou para o quarto dos idosos. Não me dizia respeito.

Também havia outros pensionistas a viver no nosso apartamento, embora não estivessem lá muito tempo. Tiveram a ver com o meu baptismo. Baba Anya era religiosa e costumava ir à igreja. Quando nasci, ela e a minha mãe baptizaram-me. Mantiveram-no em segredo do meu Pai, que era membro do partido e secretário da organização do partido, na sua fábrica.

Muitos anos mais tarde, em 1993, quando trabalhei no Conselho Municipal de Leninegrado, fui a Israel como parte de uma delegação oficial. A minha Mãe deu-me a minha cruz de baptismo para ser abençoada no Santo Sepulcro. Fiz como ela me pediu e coloquei a cruz à volta do pescoço. Nunca mais a tirei desde então.

A seguir: 

PARTE 2


O ALUNO

Saturday, June 16, 2018

NA PRIMEIRA PESSOA - Prefácio

 





NA PRIMEIRA PESSOA

Parte 1
Um auto retrato surpreendentemente sincero do Presidente da Rússia, Vladimir Putin
com Nataliya Gevorkyan, Natalya Timakova, e Andrei Kolesnikov
Traduzido em inglês por Catherine A. Fitzpatrick

Copyright © 2000 by Nataliya Gevorkyan, Natalya Timakova, e Andrei Kolesnikov
Publicado nos Estados Unidos da América



CONTEÚDO

Parte Um: O Filho 
Parte Dois: O Estudante  
Parte Três: O Universitário 
Parte Quatro: O Jovem especialista  
Parte Cinco: O Espia   
Parte Seis: O Democrata  
Parte Sete: O Burocrata   1  
Parte Oito: O Homem de Família       
Parte Nove: O Político      
Apêndice: A Rússia na Viragem do Milénio    209  
Fotografias   
PREFÁCIO
Falámos com Vladimir Putin em seis ocasiões diferentes, mas durante quatro horas, de cada vez. Quer ele, quer nós, fomos muito pacientes e tolerantes; ele, quando fazíamos perguntas incómodas ou demasiado invasivas; nós, quando ele chegava tarde ou nos pedia para desligarmos o gravador. “Este assunto é muito pessoal”, dizia.
Eram encontros informais, embora todos ainda usássemos gravatas. Aconteciam, habitualmente tarde, durante a noite. E só fomos uma vez, ao seu gabinete no Kremlin.
Porque o fizemos? De facto, queríamos responder a mesma pergunta que Trudy Rubin, do Philadelphia Inquirer fez em Davos, em Janeiro: “Quem é Putin?” A pergunta de Rubin foi dirigida a um conjunto de políticos notáveis e homens de negócios russos. E em vez de uma resposta, houve uma pausa.
Sentimos que a pausa foi demasiado longa. E era uma pergunta plausível. Quem era esse Snr. Putin?
Falámos com Putin sobre a sua vida. Conversamos como muias pessoas fazem, na Rússia, sentados à mesa de jantar. Por vezes, ele chegava exausto, com as pálpebras caídas, mas nunca interrompeu a conversa. Só uma vez, quando já tinha passado bastante da meia-noite, perguntou educadamente: “Então, esgotaram as perguntas ou vamos conversar um pouco mais?” Por vezes Putin fazia uma pausa para pensar sobre uma pergunta, mas acabava sempre por responder. Por exemplo, quando lhe perguntámos se nunca tinha sido traído, ficou em silêncio, duante bastante tempo. Finalmente, disse “não”, mas depois acrescentou, à laia de esclarecimento, “Os meus amigos nunca me traíram.”
Procurámos os amigos de Putin, pessoas que o conheciam bem ou que tinham desempenhado um papel importante no seu destino. Fomos à sua dacha, onde encontrámos um grupo de mulheres: a sua esposa, Lyudmila, as duas filhas – Masha e Katya – e um poodle com um aspecto de cachorro de brinquedo, chamado Toska.
Não adicionamos uma única linha editorial ao livro. El apresenta somente perguntas. E se essaas perguntas levaram Putin ou os seus familiares a recordar ou aa ponderar, tentámos não interromper. Por este motivo é que o formato do livro é um pouco invulgar – consiste inteiramente em entrevistas e monólogos.
Todas as nossas conversas estão registadas nestas páginas. Podem não responder à pergunta complexa de “Quem é este Snr. Putin?” mas, pelo menos, aproximar-nos-ão um pouco mais da percepção do novo presidente da Rússia.
NATALIYA GEVORKYAN NATALYA TIMAKOVA ANDREI KOLESNIKOV

AS PERSONAGENS PRINCIPAIS EM “ NA PRIMEIRA PESSOA”
Pessoas
Vadim Viktorovich Bakatin: Ministro do Interior da URSS (1988-90); presidente da KGB (1991); candidato presidencial.
Boris Abramovich Berezovsky: proeminente empresário influente em assuntos políticos; co-proprietário da ORT, estação de televisão pública pró-governo; antigo Vice Secretário do Conselho de Segurança, de Outubro de 1996 a Novembro de 1997; envolvido no conflito checheno; nomeado Secretário Executivo da Comunidade de Estados Independentes (CEI); demitido por Yeltsin em Março de 1999, eleito membro do parlamento de Karachaevo-Cherkessia, em Dezembro de 1999.
Pavel Pavlovich Borodin: Chefe de gabinete na administração presidencial de 1993 a 2000; em Janeiro de 2000, nomeado Secretário de Estado da União da Bielorrússia e da Rússia.
Leonid Ilyich Brezhnev: Secretário Geral do Partido Comunista da União Soviética de 1964-1982.
Anatoly Borisovich Chubais: Vice Primeiro Ministro no governo de Chernomyrdin (1992) e governo (1994); membro nomeado da comissão governamental encarregada da privatização e do ajuste estrutural em 1993; nomeado primeiro Vice Presidente do governo em 1994 e demitido por Yeltsin em Janeiro de 1996; nomeado por Yeltsin para cargo de Chefe da Administração Presidencial em Julho de 1996; Ministro das Finanças, de Março a Novembro de 1997.
Vladimir Churov: Vice-Presidente da Comissão de Relações Estrangeiras da Prefeitura de São Petersburgo, na administração de Sobchak.
Michael Frolov: Coronel aposentado, instrutor de Putin no Andropov Red Banner Institute.
Vera Dmitrievna Gurevich: Professora de Putin do 4º ao 8º ano da Escola Nº 193, em São Petersburgo.
Sergei Borisovich Ivanov: Oficial de carreira dos Serviços Secretos Estrangeiros, com patente de tenente general; nomeado Vice Diretor do FSB em Agosto de 1998; nomeado Secretário do Conselho de Segurança em Novembro de 1999.
Katya: A filha mais nova de Putin.
Vladimir Aleksandrovich Kryuchkov: Presidente da KGB Soviética (1988-91) até ser preso pelo golpe de Agosto de 1991; amnistiado em Fevereiro de 1994.
Yuri Luzhkov: Prefeito de Moscovo.
Masha:  A filha mais velha de Putin.
Yevgeny Maksimovich Primakov: Colunista do Pravda e ex Director do Instituto de Estudos Orientais da URSS e do Instituto de Economia Mundial e Relações Internacionais, primeiro Vice Presidente do KGB (1991), Director do Serviço Central de Inteligência Soviética (1991) e Director do Serviço de Inteligência Estrangeira da Rússia (1991-1996); nomeado Ministro dos Negócios Estrangeiros em Janeiro de 1996 e novamente em 1998; nomeado por decreto de Yeltsin para o cargo de Presidente do Governo (Primeiro Ministro) em Setembro de 1998 e demitido por Yeltsin dessa posição em Maio de 1999; eleito para a Duma do Estado (Parlamento) pela lista partidária da Pátria-Toda a Rússia, em Dezembro de 1999.
Lyudmila Putina: esposa de Vladimir Putin (apelidos encontrados no texto: Luda, Ludik).
Sergei Roldugin: Violoncelista líder da Orquestra Sinfónica do Teatro Mariinsky, amigo dos Putins, e padrinho da filha mais velha de Putin, Masha.
Eduard Amvrosievich Shevardnadze: Ministro dos Negócios Estrangeiros soviético (1985-91) que renunciou em protesto ao golpe iminente; co-Presidente do Movimento de Reforma Democrática (1991-92); Chefe de Estado e Presidente do Parlamento da Geórgia.
Anatoly Aleksandrovich Sobchak: Prefeito e Presidente do governo de São Petersburgo (Leningrado) de 1991 a 1996; co-presidente do Movimento de Reforma Democrática (1991-92); membro do Conselho Presidencial Russo desde 1992; morreu em Fevereiro de 2000. Sua esposa é Lyudmila Borisnova.
Oleg Nikolayevich Soskovets: Nomeado Primeiro Vice Presidente do Governo em 1993 (Vice Primeiro Ministro) responsável por 14 ministérios, incluindo energia e transporte; designado para lidar com o conflito checheno em 1994; juntou-se à equipa de campanha presidencial de Yeltsin em 1996, mas demitiu-se em Março da campanha e, em Junho, foi destituído de seu posto como Primeiro Vice Primeiro Ministro. Yuri Skuratov: Ex-Procurador Geral, suspenso depois que um jornal publicou uma fotografia dele em uma sauna a vapor com duas prostitutas.
Vladimir Anatolyevich Yakovlev: Primeiro Vice Prefeito de São Petersburgo de 1993-1996; eleito Governador de São Petersburgo em 1996.
Marina Yentaltseva: Secretária de Putin no Conselho Municipal de São Petersburgo (1991-96).
Valentin Yumashev: Chefe do pessoal da administração Yeltsin
Abreviaturas / Termos
FRG República Federal da Alemanha
FSB Serviço de Segurança Federal 
FSK Serviço Federal de Contra-Inteligência
FSO Serviço de Guarda Federal
RDA República Democrática Alemã (Alemanha Oriental)
KGB Comissão para a Segurança do Estado (era soviética)
Komsomol Liga da Juventude Comunista
Kukly Puppets, um programa satírico da TV
MVD Ministério de Assuntos Internos ou Ministério do Interior
NATO/OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte
NKVD Comissariado do Povo para Assuntos Internos, ou a polícia secreta da era Stalin
OSCE Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, órgão de segurança e direitos humanos composto por 54 membros, fundado em 1975.
Pioneiros Organização de crianças da era soviética
SED Partido Comunista Alemão Oriental

“De facto, tive uma vida muito simples. É tudo um livro aberto. Acabei a escola e fui para a universidade. Licenciei-me na Universidade e fui para o KGB. Terminei o meu trabalho no KGB e regressei à Universidade. Depois da Universidade, fui trabalhar para Sobchak.
De Sobchak, para Moscovo e para o Departamento Geral. Depois para a Administração Presidencial. Daí, para o FSB. Depois fui nomeado Primeiro Ministro. Agora cumpro as funções de Presidente. É tudo!”
Mas, é claro que existem mais detalhes?”
“Sim, existem. ...”
A seguir:
PARTE 1 
Putin fala sobre os seus pais, abordando as missões de sabotagem do seu pai, na Segunda Guerra Mundial, o Cerco de Leningrado e a vida num apartamento comunal depois da guerra. Não é fácil - sem água quente, sem casa de banho, um wc fedorento e brigas constantes. Putin passa muito tempo perseguindo ratos com um pau, na escadaria do prédio.


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