Antes da visita oficial à Itália, Vladimir Putin concedeu uma entrevista ao
principal jornal italiano ‘Corriere della
Sera’.
4 de Julho de 2019
06:00
Pergunta: As relações entre a Rússia e a Itália
parecem ser positivas. O nosso governo está entre os poucos da Europa, que
estão a pressionar para que seja efectuada a
revisão das sanções. No entanto, é a Itália que sofre as maiores perdas devido
à proibição do fornecimento de vários bens de consumo, introduzida pelo governo
russo como contramedida. Não seria um gesto amistoso da parte da Rússia, dar
o primeiro passo e começar a levantar, unilateralmente, as sanções
retaliatórias?
Presidente
da Rússia, Vladimir Putin: De
facto, desfrutamos de relações especiais com a Itália. Existe um diálogo de
confiança com os dirigentes italianos. Está em andamento um trabalho conjunto
contínuo nos campos político, económico, científico e humanitário. Apreciamos
muito esse activo de parceria e confiança mútua.
Claro, mantivemos essa circunstância em
mente. E não tínhamos o desejo de prolongar as restrições às relações económicas
com a Itália. Mas o problema é que as nossas medidas de resposta - em
retaliação às sanções ilegítimas que nos foram impostas - deveriam ser
não-discriminatórias, porque senão enfrentaríamos problemas na Organização
Mundial do Comércio. Gostaria de salientar que as decisões de impor sanções
contra a Rússia foram tomadas pela Comissão Europeia e apoiadas por todos os
países da UE.
Ao mesmo tempo, gostaria de sublinhar que
as medidas de resposta mencionadas são de natureza local e não impedem, de um
modo geral, o desenvolvimento eficaz do nosso investimento e cooperação
industrial. Assim sendo, nenhuma das empresas italianas se retirou do mercado
russo. No recente Fórum Económico, em São Petersburgo, foram assinados vários
contratos bilaterais promissores nos sectores industrial, do petróleo e gás e da
petroquímica.
Quanto à remoção das sanções, tenho falado
sobre este assunto repetidas vezes. Aquele que está por trás das sanções é o que deve dar o primeiro passo; estou a falar da União Europeia.
Depois do mais, a Rússia poderá abolir as contramedidas. Esperamos que o bom
senso acabe por prevalecer e a Europa dê prioridade aos seus próprios
interesses em vez de seguir as instruções dadas por outrem. Então, poderemos
desenvolver uma cooperação mutuamente benéfica, multifacetada e voltada para o
futuro.
Pergunta: No mundo de hoje, que parece em certos
aspectos, ainda mais instável do que o da era da Guerra Fria, os acordos de
desarmamento Rússia-EUA estão em crise. Estamos à beira de uma nova corrida
armamentista com consequências imprevisíveis, apesar do que pareceu ser
um bom começo nas suas relações com o Sr. Trump. De que maneira é que o Snr. pensa
que o seu país é responsável por tal desenvolvimento?
Vladimir
Putin: De maneira
nenhuma! O colapso do sistema de segurança internacional começou com a retirada
unilateral dos EUA do Tratado de Mísseis Antibalísticos (Tratado ABM). Este instrumento foi a
pedra angular de toda a arquitectura do controlo de armas.
Basta comparar a quantia que a Rússia
gasta na defesa - cerca de 48 biliões de dólares - e o orçamento militar dos
EUA, que é de mais de 700 biliões de dólares. Existe nestes números algum sinal de uma verdadeira
corrida armamentista? Não estamos dispostos a ser arrastados para ela. Mas, ao
mesmo tempo, devemos garantir a nossa segurança. Por esta razão, é que tivemos de
desenvolver armas e equipamentos avançados - em resposta ao aumento das
despesas militares e às acções claramente destrutivas dos Estados Unidos.
A situação com o Tratado INF é um
exemplo flagrante. Aproximámo-nos dos EUA mais de uma vez, sugerindo que
resolvêssemos as questões relativas a este documento, mas enfrentamos uma
recusa. Como resultado, os americanos estão a destruir outro Tratado importante.
As perspectivas da nossa cooperação no
campo da redução estratégica de armas ainda permanecem pouco claras. O Tratado
START expirará no início de 2021. Neste momento, os EUA não parecem dispostos a
discutir o seu prolongamento ou a possibilidade de elaborar um novo acordo em
grande escala.
Deve
ser mencionado aqui, mais um facto. Em Outubro passado, oferecemos aos EUA
legitimar uma declaração conjunta sobre a inadmissibilidade de uma guerra
nuclear e o reconhecimento das suas consequências devastadoras. Não houve
resposta dos EUA.
(***Ver Nota da Tradutora, no final.)
Recentemente,
a Administração em Washington começou a reflectir sobre a possibilidade de
reiniciar o nosso diálogo bilateral, baseado numa agenda estratégica alargada.
Acredito que alcançar acordos concretos na esfera de acção de assegurar o
controlo de armas, ajudaria a melhorar a estabilidade internacional. A Rússia
tem vontade política de fazê-lo; agora compete aos EUA tomarem uma decisão.
Reiterei essa posição na nossa reunião com o Presidente Trump, à margem da
Cimeira do G20, no Japão, não há muito tempo. (N.d T: 28 e 29 de
Junho de 2019)
Pergunta: Fala-se muito na Rússia sobre
a expansão da NATO. Muitos países europeus, particularmente os da Europa
Oriental, afirmam temer possíveis actos de agressão de Moscovo. Como é que
esses medos mútuos podem ser superados? Podemos esperar por novos acordos de
Helsínquia? Considera possível que a Rússia e a Itália proponham, em conjunto,
uma nova iniciativa de diálogo, como a criação do Conselho NATO-Rússia, lançado
em Pratica di Mare, em 2002?
Vladimir Putin: Para superar
a situação nociva actual, temos de abandonar os conceitos arcaicos de “dissuasão”
e “filosofia do bloco” da era da Guerra Fria.
O
sistema de segurança deve ser comum e indivisível. Essa arquitectura deve
basear-se nos princípios fundamentais das relações entre os Estados, consagradas na
Carta da ONU e na Acta Final de Helsínquia, incluindo o não-uso da força ou a
ameaça de força, a não ingerência nos assuntos internos dos Estados soberanos e
resolução política pacífica de disputas.
Agradecemos os esforços feitos pela
Itália para melhorar a compreensão mútua na região euro-atlântica. Estamos sempre abertos ao trabalho conjunto
com os nossos parceiros italianos e ocidentais no combate a desafios e ameaças
reais de segurança, incluindo o terrorismo internacional, tráfico de drogas e
cibercrime.
Pergunta: Muito já foi dito sobre incidentes de
interferência de hackers/piratas cibernéticos sediados na Rússia, durante a
campanha eleitoral do Parlamento Europeu. Alguns países fizeram acusações explícitas
contra as autoridades russas. O que é que respondeu a este assunto? Não considera que
a questão da interferência é um problema sério nas relações com a Europa?
Vladimir
Putin: O absurdo
atingiu o apogeu quando a Rússia foi acusada de interferir nas eleições
americanas. Sabemos bem como esta história terminou – em nada. E as descobertas
da comissão de Mueller de que não houve tal conluio não foram surpreendentes - a
comissão não conseguiu extrair nenhuma evidência, pois que não poderia haver
evidência, em princípio.
Mas,
eis a parte interessante: as sanções impostas contra o nosso país sob o
pretexto dessas acusações, ainda estão em vigor.
Todas as especulações sobre a
interferência da Rússia nos processos eleitorais na União Europeia são do mesmo
tipo. Foram espalhadas, persistentemente,
na véspera das eleições europeias, como se quisessem dar aos europeus uma “insinuação”
de que foi “a interferência maliciosa da Rússia”, que foi culpada pelos
resultados tão baixos de certas forças políticas nas eleições. Além do mais, os
autores de tais conjecturas continuaram o mesmo objectivo – insistir em “demonizar”
a Rússia aos olhos dos europeus comuns.
Deixe-me salientar o seguinte: nunca
interferimos nos assuntos internos dos Estados membros da União Europeia ou de
quaisquer outros Estados e não vamos fazê-lo. É o que nos distingue nitidamente dos EUA e de alguns dos seus
aliados que, por exemplo, apoiaram o golpe de Estado na Ucrânia, em Fevereiro
de 2014.
Estamos
interessados em restabelecer a plena interacção entre a Rússia e a União Europeia
e manter a paz, a segurança e a estabilidade no continente que partilhamos.
Estamos prontos para uma colaboração construtiva com todas as forças políticas
que receberam mandato dos eleitores europeus.
Pergunta: Que tipo de relações a Rússia
tem com o partido da Liga de Matteo Salvini? Considera que ele é o dirigente italiano
em quem confiar? Como descreveria o seu relacionamento com Silvio Berlusconi?
Vladimir
Putin: Os contactos
com partidos políticos de Estados estrangeiros são geralmente mantidos a nível
partidário. Assim, a Liga da Itália e a Rússia Unida interagem no âmbito de um
acordo de cooperação. O partido da Liga e o seu líder, Matteo Salvini, apoiam activamente
o restabelecimento da plena cooperação entre a Itália e a Rússia e defendem o
levantamento antecipado das sanções anti-russas impostas pelos EUA e pela UE. É neste ponto, que concordamos.
Matteo Salvini nutre sentimentos amistosos
pela Rússia e está bem familiarizado com as suas realidades. Encontrámo-nos em
2014, em Milão, onde debatemos as perspectivas de desenvolvimento dos laços
russo-italianos, bem como as relações da Rússia com a União Europeia. Desde
então, tanto quanto sei, o Snr. Salvini e os membros do seu partido, mantiveram
contactos com os seus colegas russos, interessados em intensificar a cooperação
com os seus parceiros italianos.
Já disse em muitas ocasiões e repetirei:
nas nossas relações com Estados estrangeiros, temos consideração pelos
dirigentes eleitos legitimamente, pelos dirigentes em conformidade com a lei e
com a justiça. Estamos prontos para trabalhar e trabalharemos com os que foram
eleitos pelo povo italiano, independentemente de sua afiliação política.
Quanto a Silvio Berlusconi, somos amigos
há muitos anos. Silvio é um político de nível internacional, um verdadeiro
líder que defendeu, persistentemente, os interesses do seu país no cenário
internacional. A sua determinação sincera em manter e aumentar o potencial
desenvolvido nas relações entre os nossos países inspira respeito.
Encontramo-nos raramente, mas quando temos essa oportunidade, ele nunca aborda
assuntos da política interna do seu país. Nem eu.
É importante que em Itália haja um
consenso absoluto entre todas as forças políticas sobre a necessidade de
desenvolver boas relações com a Rússia. E retribuímos totalmente.
Pergunta: A Comissão Europeia lançou um
procedimento de défice excessivo contra a Itália pelo seu défice público
excessivo. A respeito deste assunto, será que o Snr. debateu com o Primeiro Ministro
Conte, durante a sua visita recente, a possível aquisição de títulos
soberanos italianos, por parte da Rússia?
Vladimir Putin: Não
mencionamos essa questão durante a visita do Snr. Conte a Moscovo. E, tanto
quanto sei, também não recebemos nenhum pedido formal do lado italiano.
Pergunta: Muitos esperavam que a eleição de
Vladimir Zelensky como Presidente da Ucrânia provocasse um descongelamento nas
relações com Moscovo e, também, a resolução mais antiga do conflito em Donbass
e o estabelecimento de um diálogo construtivo. Será que é possível?
Vladimir Putin: Sim, é possível se Zelensky começar a
cumprir as suas promessas eleitorais, inclusive se ele entrar em contacto
directo com os seus compatriotas, em Donbass, e deixar de rotulá-los como “separatistas”,
se as autoridades ucranianas concretizarem os Acordos de Minsk, em vez de
ignorá-los.
A ucranização
forçada, a proibição de usar a língua russa, que é a língua nativa de milhões de
cidadãos ucranianos, incluindo o ensino do russo nas universidades e nas escolas,
a fúria de neonazismo, o conflito civil no sudeste do país, as tentativas do
governo anterior para quebrar a frágil paz inter-religiosa - é apenas uma
pequena parte da terrível “bagagem” que
o novo Presidente terá de enfrentar. Portanto, vou repetir: os cidadãos
ucranianos não querem declarações de V. Zelensky e da sua equipa - querem acção
real e mudanças rápidas para melhor.
E,
claro que as autoridades de Kiev devem compreender, finalmente, que o confronto
entre a Rússia e a Ucrânia não é de interesse comum, mas sim, o desenvolvimento
de uma cooperação pragmática baseada na confiança e no entendimento mútuo. E
estamos preparados para isso.
Pergunta: O Snr. não tem adversários políticos
verdadeiros; nas eleições do ano passado, recebeu quase 77% dos votos;
praticamente não há oposição. Então, por que razão é que os seus planos de desenvolvimento
arrancam com dificuldade ? Quais são os principais obstáculos?
Vladimir Putin: Não se
trata do número de votos nas eleições, é sobre as realidades económicas que a
Rússia tem de enfrentar, a saber: o declínio ou a flutuação de preços nos
mercados globais dos nossos produtos tradicionais de exportação: petróleo, gás
e metal. De facto, as restrições externas também produzem o seu efeito.
Mas seguimos uma política razoável e
realista. Garantimos a estabilidade macroeconómica e evitamos o crescimento do
desemprego. Além do mais, conseguimos concentrar recursos significativos em
projectos nacionais de larga escala, que devem permitir um desenvolvimento inovador
nos sectores fundamentais da economia e da esfera social e melhorar a vida das
pessoas.
Quanto à concretização dos planos, na
verdade, eles nem sempre são realizados tão rápido quanto queremos. Existem
obstáculos imprevistos, dificuldades e falhas. Mas é um problema comum a todos
os países. É compreensível - hoje todos nós, incluindo a Rússia, enfrentamos
desafios demasiado ambiciosos. Eles dizem respeito não apenas à esfera económica,
mas também a outras esferas. A ideia principal é que as próprias pessoas devem
mudar em muitos aspectos, reconhecer a necessidade de mudança e do seu papel
nesses processos e envolver-se no trabalho conjunto. Isso não acontece. Repito,
todos devem perceber que o mundo está a mudar drasticamente. As tecnologias
estão a desenvolver-se a um ritmo crescente. É, por esse motivo, que os nossos
planos estão estabelecidos visando o futuro. Criamos condições para perceber os
talentos e as capacidades de cada pessoa, particularmente, dos jovens. Ao
observar os múltiplos programas que são procurados nesta área, vejo o projecto
Rússia - Terra de Oportunidade como sendo muito importante; visa o crescimento
profissional e pessoal da juventude e das pessoas de várias gerações.
Destina-se a dar-lhes a oportunidade de provar as suas capacidades na
administração pública, nos negócios e noutras áreas importantes. Resumindo, estou confiante de que,
aproveitando a energia, a liberdade e a iniciativa dos nossos cidadãos, iremos
certamente alcançar os objectivos que estabelecemos para nós próprios.
Pergunta: Pensa na Rússia depois de Putin, a
partir de 2024? Pretende deixar a política ou, como muitos acreditam, vai ficar
noutra esfera de acção?
Vladimir
Putin: É cedo
demais para dizer. Existem cinco anos de intenso trabalho pela frente. Dada a
dinâmica rápida que observamos no mundo de hoje, é difícil fazer previsões.
Acredite em mim, tenho muito que fazer agora, tal como me encontro, hoje.
Pergunta: Qual é a base das relações comerciais e
económicas entre a Itália e a Rússia? Quais são os projectos que estão a ser estabelecidos ou discutidos agora?
Vladimir Putin: A Itália é
um dos principais parceiros comerciais do nosso país no mundo (em 2018, foi o quinto
depois da China, Alemanha, Holanda e Bielorrússia). Cerca de 500
entidades empresariais italianas estão presentes na Rússia. E apesar da
participação da Itália nas sanções anti Rússia e as nossas medidas de
retaliação, que discutimos anteriormente, as nossas relações comerciais e económicas
bilaterais desenvolvem-se com bastante sucesso.
Em 2018, o nosso comércio mútuo aumentou
12,7%, chegando a 26,9 biliões de dólares. O investimento directo acumulado da
Itália, alcançou 4,7 biliões de dólares até ao início deste ano, enquanto o
investimento da Rússia em Itália, também é significativo - 2,7 biliões de
dólares.
Vários projectos vultuosos de
investimento já foram concretizados na Rússia e em Itália pelas empresas dos
dois países. Os mais importantes incluem 4 centrais elétricas operadas pela
Enel nas regiões de Tver e Sverdlovsk e no território de Stavropol; 2 ‘joint
ventures' com o fabricante de pneus Pirelli em Voronezh e Kirov; uma usina em
Chelyabinsk produzindo bombas para a indústria do petróleo com a participação
de Termomeccanica S.p.A. A propósito, em Chelyabinsk existem mais 5 empresas
russo-italianas, incluindo produção metalúrgica, fabricação de equipamentos de
energia e engenharia criogénica. No ano passado, uma fábrica de motores
elétricos de alta tensão, juntamente com a empresa italiana Nidec, iniciou o seu
trabalho na região. Gigantes como a ENI, Maire TECNIMONT e IVECO investem
activamente na economia russa.
Como exemplos de investimentos em larga
escala da Rússia em Itália, mencionaria as instalações e postos de gasolina da
refinaria de petróleo LUKOIL, e uma das maiores refinarias de óxido de alumínio
da Europa, pertencentes à RUSAL e localizada na ilha da Sardenha.
Vários projectos importantes de
investimento na Rússia com a participação italiana estão agora a ser
desenvolvidos. Incluem os projectos de energia eólica da Enel, a construção de
uma fábrica de produtos químicos na região de Samara e uma refinaria de gás na
região de Amur, com a participação da Maire TECNIMONT bem como a nova fábrica de
macarrão da Barilla. Também mencionarei um grande projecto italo-russo fora dos
nossos países - no Egipto. Estou a referir o campo de gás de Zohr, desenvolvido
pela ENI e pela Rosneft.
Gostaria de agradecer aos nossos parceiros
de negócios italianos pela sua posição de princípio a favor do aperfeiçoamento
dos nossos laços comerciais. Valorizamos muito e esperamos que a cooperação
económica ítalo-russa sirva ainda mais para benefício dos nossos países e dos
nossos povos.
Fim da entrevista
Fim da entrevista
***Nota da Tradutora – Pesquisei intensamente
a fim de encontrar documentos que atestassem a afirmação tão importante do
Presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, passo a transcrever:
'Deve ser mencionado aqui, mais um facto. Em Outubro passado, oferecemos aos EUA legitimar uma declaração conjunta sobre a inadmissibilidade de uma guerra nuclear e o reconhecimento das suas consequências devastadoras. Não houve resposta dos EUA'
Não encontrei nenhum documento taxativo, mas penso que este facto ocorreu durante o encontro com John Bolton, em 23 de Outubro de 2018, que passo a traduzir, mas que obviamente, dada a natureza dessa reunião, não foi totalmente transcrito.
'Deve ser mencionado aqui, mais um facto. Em Outubro passado, oferecemos aos EUA legitimar uma declaração conjunta sobre a inadmissibilidade de uma guerra nuclear e o reconhecimento das suas consequências devastadoras. Não houve resposta dos EUA'
Não encontrei nenhum documento taxativo, mas penso que este facto ocorreu durante o encontro com John Bolton, em 23 de Outubro de 2018, que passo a traduzir, mas que obviamente, dada a natureza dessa reunião, não foi totalmente transcrito.
Se algum leitor me puder elucidar
melhor sobre este assunto que, para mim, é de grande importância, peço o favor
de me contactar através do meu email luisavasconcellos2012@gmail.com. M.obrigada.
Vladimir Putin recebeu no Kremlin,
John Bolton, Assistente do Presidente dos EUA para Assuntos de Segurança
Nacional.
23 de
Outubro de 2018
18:30
Kremlin,
Moscovo
John Bolton, Assistente do Presidente dos EUA para Assuntos de Segurança
Nacional.
Participaram na reunião,
do lado russo, o Assessor Presidencial, Yury Ushakov, o Ministro dos Negócios
Estrangeiros, Sergei Lavrov, e o Secretário do Conselho de Segurança, Nikolai
Patrushev.
Hoje, um pouco mais cedo, o Ministro
da Defesa, Sergei Shoigu, reuniu-se com John Bolton. Em 22 de Outubro, Nikolai
Patrushev e Sergei Lavrov também mantiveram conversações com o Assistente do Presidente
dos EUA.
* * *
Iniciando as conversações
com John Bolton, Assistente do Presidente dos EUA para Assuntos de Segurança
Nacional.
President of Russia Vladimir Putin:
Snr. Bolton, Colegas,
Temos muito prazer em vê-lo em
Moscovo.
No início de nossa
conversa, gostaria de recordar o nosso encontro com o Presidente dos Estados
Unidos, em Helsínquia. De acordo como o meu ponto de vista, foi uma reunião e uma
conversa útil e, por vezes, bastante difícil, que acabou por ser frutuosa. Esta é a minha opinião.
Por este motivo é que, para ser sinceros, às vezes ficamos perplexos ao ver os Estados Unidos tomar medidas em relação à Rússia, que não podemos chamar de amigáveis e que nunca foram provocadas por nós. Na verdade, nem sequer respondemos a essas medidas, se bem que essa abordagem continua.
Por este motivo é que, para ser sinceros, às vezes ficamos perplexos ao ver os Estados Unidos tomar medidas em relação à Rússia, que não podemos chamar de amigáveis e que nunca foram provocadas por nós. Na verdade, nem sequer respondemos a essas medidas, se bem que essa abordagem continua.
Apesar dos vossos
esforços, o comércio entre os nossos países - por mais estranho que possa
parecer - continua a crescer, 16% no ano passado; este ano já cresceu 8%. É
pequeno em números absolutos, muito pequeno, é claro, no entanto, essa é a
tendência. A propósito, com um saldo positivo para os Estados Unidos. Os investimentos
mútuos também estão a crescer, sendo os investimentos russos na economia dos
EUA, duas vezes maiores do que os investimentos americanos na economia russa.
Indubitavelmente, será muito
útil trocar opiniões sobre as questões da estabilidade estratégica, do
desarmamento e dos conflitos regionais.
Temos
conhecimento - e falamos muito - sobre a saída unilateral dos EUA, do Tratado de
Mísseis Antibalísticos (Tratado ABM). Recentemente, ouvimos falar da intenção
dos Estados Unidos em sair do Tratado de Forças Nucleares de Alcance
Intermediário (Tratado INF). Sabemos sobre as dúvidas da Administração em
relação ao prolongamento do Novo START e sobre a intenção de instalar alguns
elementos do sistema de defesa antimísseis no Espaço.
Pelo que me lembro, há uma
águia retratada no brasão dos EUA: ela segura 13 flechas numa garra e um ramo
de oliveira na outra, como símbolo de política pacífica: um galho com 13
azeitonas. A minha pergunta é a seguinte: Será que a vossa águia já comeu todas as azeitonas e
deixou apenas as flechas?
De um modo geral, gostaria
muito de conversar consigo não apenas na qualidade Assistente do Presidente dos
EUA, mas também como especialista em desarmamento e controlo de armas.
E, em primeiro lugar, claro
que seria útil continuar um diálogo directo com o Presidente dos Estados
Unidos, à margem dos acontecimentos internacionais que ocorrerão em breve, como
o de Paris. Naturalmente, se os EUA estiverem interessados em tais contactos.
John Bolton, Assistente do Presidente dos EUA para Assuntos de Segurança
Nacional: Muito obrigado, Senhor Presidente. É um prazer vê-lo novamente. Aprecio que tenha
disponibilizado o seu tempo para estarmos juntos e para debatermos todos os
assuntos agendados.
E para começar, como
indicou, penso que o Presidente Trump espera vê-lo em Paris, à margem da
celebração do 100º aniversário do Armistício. Porque, apesar das nossas diferenças,
que existem por causa dos nossos interesses nacionais que são diferentes, ainda é
importante trabalhar em áreas onde existe a possibilidade de cooperação mútua.
E, nos últimos dois dias, mantive
conversações com todos os seus Conselheiros seniores de segurança nacional e agradeço
novamente a oportunidade de falar com o Snr. em nome do Presidente Trump. E,
felizmente, terei algumas respostas para o Snr., mas não trouxe nenhuma
azeitona.
Vladimir Putin: Concordo 100% consigo.
(Risos.)
John Bolton: O ramo
de oliveira é mantido na garra direita da águia, a demonstrar a sua prioridade.
Vladimir Putin: Se bem me lembro, há
também uma inscrição: In Varietate Concordia, United in Diversity. (Lema da União Europeia) É por esse
motivo que, apesar das diferentes abordagens, podemos e devemos procurar pontos
de contacto.
John Bolton: Essa é a
nossa intenção, embora o nosso lema seja “E pluribus unum”, “De muitos, um”,
então talvez seja algo a esperar.
<…>
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
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