Saturday, October 20, 2018

VLADIMIR PUTIN na Reunião do Clube Internacional de Debates Valdai

 



Vladimir Putin participou na sessão plenária da reunião do 15º aniversário do Clube Internacional de Debates Valdai.
18 de Outubro de 2018
17:50
Sochi
At the plenary session of the 15th anniversary meeting of the Valdai International Discussion Club.
O tema principal é O Mundo Em Que Viveremos: Estabilidade e Desenvolvimento no Século XXI. O moderador da sessão plenária é Fyodor Lukyanov, Director de Pesquisa da Fundação para o Desenvolvimento e Apoio, do Clube de Debates Valdai.
O Fórum Valdai abriu em Sochi, em 15 de Outubro. Os participantes - 130 especialistas de 33 países - estão discutindo as perspectivas políticas e socio-económicas da Rússia, bem como o desenvolvimento social e cultural e o seu lugar no mundo moderno.
O Club Valdai foi fundado em 2004. Tradicionalmente, os participantes do fórum reúnem-se com altos funcionários da Rússia, que fazem parte das reuniões anuais.
* * *
Reunião do Clube Internacional de Debates Valdai
Fyodor Lukyanov, moderador da sessão plenária : Boa tarde, Amigos,
Vamos começar a nossa sessão final. De acordo com a tradição, temos aqui o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, como nosso convidado.
Senhor Presidente, caso se tenha esquecido, está aqui pela 15ª vez. Como está?
Presidente da Rússia, Vladimir Putin: Em primeiro lugar, gostaria de falar com os participantes permanentes da nossa reunião. É verdade, 15 anos já é alguma coisa. Acredito que o  Clube Valdai, como o chamamos, porque os primeiros eventos ocorreram em Novgorod, se tornou uma boa plataforma internacional ao longo destes anos, uma plataforma para profissionais interessados em política global, economia, cultura e trabalho da comunicação mediática (br. Mídia). Claro que, em relação à Rússia.
Em regra, são peritos sobre assuntos da Rússia. E gostaríamos muito que as pessoas que trabalham com a Rússia tivessem tal plataforma, para pudermos encontrar-nos e puderem ouvir a nossa posição sobre todos os assuntos de interesse para vós, para os vossos países e para nós, para a Rússia, não através de interpostas pessoas, mas em primeira mão, de mim e dos meus colegas.
Estas discussões apresentaram sempre pontos de vista diferentes e, às vezes, mesmo opostos. Penso que é essa, a vantagem deste clube de debates; designamos como clube de debates, porque onde há apenas um ponto de vista correcto, não há lugar para discussão.
A verdade nasce da comparação de diferentes abordagens aos mesmos fenómenos e de várias avaliações. Graças à vossa participação, podemos atingir este resultado.
Vejo muitos políticos mundialmente famosos nesta sala, aqui à minha direita e gostaria de saudá-los a todos, incluindo o Presidente do Afeganistão e os nossos colegas da EAEU. Também posso ver cientistas, figuras culturais e jornalistas. Espero que a reunião de hoje não só seja útil, como também interessante.
No entanto, estou um pouco confuso sobre o formato de hoje. Normalmente, temos várias pessoas neste palco e o debate demora algum tempo. É claro que estou pronto para voar sozinho, como sugerem os organizadores, mas espero que não demore quatro ou cinco vezes mais do que o habitual.
Obrigado e vamos apenas pôr de lado os longos comentários de boas-vindas e vamos directos para nossa conversa, para o nosso trabalho e para o nosso debate.
Fyodor Lukyanov:  Senhor Presidente, é verdade que, como referiu, Valdai tem vários pontos de vista. Sempre houve muitas opiniões e este ano não é excepção.
Especialmente quando vemos os nossos associados a expandir-se, não só em números, como também em termos de representação de vários países e regiões, o que, obviamente, proporciona visões diferentes.
Este ano temos uma agenda muito ocupada com um assunto que não tem sido muito característico para Valdai, recentemente, porque geralmente falamos praticamente sobre a Rússia o tempo todo. A última vez que conversamos sobre a Rússia foi na 10ª reunião. E certamente está lembrado de que foi um evento muito grande; o Sr. participou e decidimos voltar.
Não só porque foi solicitado por muitos dos nossos participantes, membros do clube, (Valdai preparou um relatório anual para esta sessão), mas também porque acreditamos que o mundo está a enfrentar algumas mudanças muito graves.
Não está só a ser transformado globalmente; mas, em certo sentido, estamos a perder a visão sobre que fundações ele poderá ser construído mais tarde. Procuramos esses fundamentos nos nossos relatórios anteriores, mas agora, de facto, nós desistimos e podemos dizer que o momento em que a mudança do mundo poderia ser controlada, passou.
Falaremos deste assunto mais tarde, mas isto significa que qualquer país - grande ou pequeno - acima de tudo, deve confiar em si mesmo, para organizar a sua própria estabilidade e desenvolvimento. Por esta razão é que seria razoável considerar se estamos preparados para isso. Neste sentido, é claro que, o que diz, é realmente informação em primeira mão.
Infelizmente, o nosso trabalho está ofuscado por um acontecimento trágico. Escutamos as notícias sobre Kerch. Ontem, o Snr. falou sobre isso e nós também falamos sobre essa tragédia.
Qual é o motivo principal? É claro que o primeiro pensamento de todos nós aqui - ou de todos, em qualquer parte – é que se tratava de um grande ataque terrorista novamente. Infelizmente, estamos a acostumar-nos a isso. Mas mais tarde, descobriu-se que a situação era um pouco diferente.
Por que é que esta recordação está a vir de novo para mim? Não é apenas porque isto aconteceu, mas porque também traz lembranças do primeiro Fórum Valdai, em Novgorod. O Snr. mencionou-o; ocorreu no contexto da tragédia de Beslan.
Participei nesse fórum como também, muitos dos que estão hoje aqui connosco. Lembro-me muito bem. Obviamente, o debate desorganizado, pois todos saíam para ver o que estava a acontecer na televisão, pois não havia smartphones.
O Snr. também estava em Valdai, mas durante o fórum, gravou um discurso difundido pela TV para a nação que , compreensivelmente, foi chocante dado o contexto.
No discurso, disse algo que seria citado mais tarde: “Os fracos são espancados. Alguns gostariam de cortar um pedaço grande da nossa torta. Outros estão a ajudá-los. Pensam que a Rússia, uma das maiores potências nucleares, ainda é uma ameaça que deve ser eliminada. O terrorismo é apenas uma ferramenta que eles usam ”.
Depois, quando conversou com os membros do Clube Valdai, disse que havíamos sido desafiados e que ultrapassaríamos esse desafio. Decorridos 15 anos; pensa que conseguimos?
Vladimir Putin: Foi uma longa declaração de abertura. Começou por declarar: “a última vez, durante o 10º Fórum Valdai; foi o 14º Fórum Valdai ”(Risos).
Fyodor Lukyanov: É melhor do que eu em matemática.
Vladimir Putin: Sou um ouvinte mais atento.
Gostaria de começar como você fez, de facto, com a tragédia de ontem. Paradoxalmente, entre outras coisas, parece ser o resultado da globalização. Temos visto comunidades inteiras na internet surgirem após eventos trágicos bem conhecidos nas escolas dos EUA. Jovens psicologicamente instáveis começam a acreditar em falsos heróis.
Significa que nós, na Rússia e globalmente, não estamos a responder às mudanças no mundo. Revela que não estamos a criar conceitos úteis, interessantes e essenciais para os jovens, e eles recorrem a esse heroísmo suplente que conduz a tragédias como esta.
Existe uma procura pelo verdadeiro heroísmo nas nossas vidas. O verdadeiro heroísmo pode manifestar-se, em particular, ao defender a civilização dos males de hoje. É claro que o terrorismo é um dos males mais sérios e desafiadores. Já disse muitas vezes, inclusive na 70ª sessão [da Assembleia Geral da ONU] em Nova York, que a única maneira de, efectivamente, enfrentar o terrorismo é unir esforços.
Infelizmente, no verdadeiro sentido da palavra, ainda não estabelecemos essa cooperação. Existem alguns aspectos de cooperação em que fomos bem-sucedidos, mas não é suficiente. Pelos mais altos padrões, não conseguimos até agora, unir esforços da maneira que devíamos, se bem que poderia ter sido feito, baseado nas Leis relevantes do Direito Internacional e nas resoluções da ONU.
Vou tentar dar uma resposta directa à sua pergunta: “Alcançamos os resultados que esperávamos atingir, começando com os acontecimentos tristes e trágicos que testemunhámos ou em que participámos, em meados da década de 1990 e no início dos anos 2000?"
De uma maneira geral, claro que sim. Recordemos que - tendemos a esquecer muito rapidamente os erros cometidos contra nós, tentando pensar apenas em coisas positivas - na época estava a ocorrer na Rússia, uma guerra civil. Não foi uma guerra global e não envolveu todo o país, mas houve hostilidades, uma verdadeira guerra.
Guerra com intervenção da aviação e de equipamentos militares etc., um grande número de grupos militantes no território deste país, com militantes provenientes principalmente de organizações terroristas sediadas no estrangeiro, incluindo a Al-Qaeda, que estavam activos neste país.
Graças a Deus, livrámo-nos deles, mas não erradicamos o terrorismo em si. É claro que o terrorismo ainda representa uma grande ameaça para o nosso país e foi por esse motivo que lançamos estas operações na Síria.
O terrorismo é uma grande ameaça para os nossos vizinhos, incluindo o Afeganistão - vejo o Presidente [Hamid] Karzai aqui. Se lhe for dada a palavra, ele dir-nos-á o que está a acontecer, hoje, no seu país - e também é uma grave ameaça. Quero dizer que não derrotamos o terrorismo globalmente, é claro, mas demos-lhe um tremendo golpe e claro que mudamos drasticamente a situação no nosso país - na Federação Russa - para melhor.
Fyodor Lukyanov: O Snr. está naturalmente a inferir uma reminiscência diferente. A conferência de Valdai de há três (em 2015) ocorreu exactamente, duas semanas após o início da operação militar na Síria.
Recordo-me que um de nossos colegas fez uma pergunta: “Vale a pena realmente estar envolvido? Por causa dos custos, das baixas, e não está claro como é que vai acabar.” E o Snr. disse a sua frase sui generis, que foi citada muito mais tarde:“ Há cinquenta anos, aprendi uma regra nas ruas de Leninegrado: se a luta for inevitável, sê o primeiro a atacar ”.
Bem, atacámos e, três anos depois, a situação na Síria realmente mudou drasticamente, mas ainda é impossível dizer que o problema foi resolvido. Acontecimentos recentes produzem impressões positivas e negativas. Por esta razão, gostaria de repetir a pergunta de há três anos: “Talvez não valesse a pena o risco, porque as baixas foram preocupantes?”
Vladimir Putin: Lembro dessa pergunta, mas soou como “As baixas serão possíveis?” Então eu disse: “Sim, são, mas devemos evitar o pior curso dos acontecimentos.” E qual seria o pior desenvolvimento para nós? A completa “somalização” daquela região, a degradação do Estado e a infiltração de uma parte significativa dos militantes no território da Federação Russa e no território dos Estados vizinhos com os quais não temos barreiras alfandegárias ou fronteiras de facto, nem necessidade de apresentação de visas ou passaportes. Para nós, representaria um perigo real e sério.
Mas, eliminamos em grande parte, esse risco através das nossas acções, porque causamos muitos danos aos terroristas na Síria. Muitos deles foram eliminados, e alguns deles, graças a Deus, decidiram que queriam sair: eles depuseram as armas após perderem a fé nos princípios que consideravam correctos. Eu diria, que este é o resultado mais importante.
A segunda e não menos importante consequência, é que preservamos o Estado sírio e, nesse sentido, ajudamos a estabilizar a região. Falámos sobre esse assunto, ontem, com algum detalhe, com o Presidente do Egipto; ele partilha essa posição e é partilhada por muitos outros países. Portanto, acredito que, de um modo geral, alcançamos as metas que estabelecemos para iniciar a operação na República Árabe da Síria; nós conseguimos um resultado.
Veja, afinal de contas, alguns anos antes de nós, os países que concordaram em participar nessas operações anti-terroristas, na maioria das vezes voluntariamente, e talvez até mesmo com metas e objectivos menos perfeitos - que resultado vimos nos três anos anteriores? Nenhum. Enquanto nós libertamos quase 95% de todo o território da República da Síria. Este é meu primeiro ponto.
Segundo. Apoiámos o Estado da Síria, impedindo o Estado de entrar em colapso. É verdade que ainda há muitos problemas. Agora vemos o que está a acontecer na margem esquerda do Eufrates. Provavelmente, os nossos colegas sabem: este território está sob o patrocínio dos nossos parceiros americanos. Eles confiam nas forças armadas curdas.
Mas deixaram, claramente, uma ponta solta: o ISIS permanece em vários locais e, recentemente, começou a expandir a sua área de influência. Levaram 130 famílias como reféns - quase 700 pessoas.
Penso que poucos dos que estão aqui presentes, sabem que eles fizeram ultimatos, prorrogaram exigências e avisaram que se esses ultimatos não fossem cumpridos, matariam 10 pessoas todos os dias. Anteontem, 10 pessoas foram baleadas. Executadas. Eles começaram a cumprir as suas ameaças.
Isto é simplesmente horroroso. É uma tragédia. Precisamos fazer alguma coisa. Por que razão é que os nossos colegas se mantém em silêncio? Segundo as nossas informações, estão entre os reféns, vários cidadãos americanos e europeus.
Estão todos calados, está tudo em silêncio como se nada estivesse a acontecer. Portanto, ainda há muito a ser feito; isso é verdade. Mas repito que, no geral, alcançamos o nosso objectivo.
O próximo passo é um acordo político na ONU, em Genebra. Precisamos formar agora uma comissão constitucional. O progresso não é fácil, mas ainda estamos a avançar. Espero que possamos avançar com os nossos parceiros nesta área.
Fyodor Lukyanov: O Snr. disse que alguns dos militantes perderam a fé e compreenderam que estavam errados. Primeiro, tem a certeza de que eles perderam a fé? Ou talvez eles estivessem apenas dominados e percebessem que era inútil continuar a lutar, mas a situação poderia mudar um pouco e eles teriam a fé de volta?
Vladimir Putin: Talvez. Talvez sim. Provavelmente, tem parcialmente razão.
Alguns deles, na verdade, depuseram as armas e, realmente, perceberam que tinham objectivos falsos. Outros aproveitaram-se, simplesmente, das nossas medidas humanitárias por enquanto e estão prontos para pegar nas armas a qualquer momento. Isso é possível.

Isso significa simplesmente que todos nós precisamos de estar alerta, não subestimar as ameaças e intensificar o nosso trabalho conjunto para combater o terrorismo, a ideologia do terrorismo e o financiamento do terrorismo
A continuar.
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos




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